Considero que o recurso às mini-hídricas no aproveitamento do potencial hidroeléctrico disponível deve ser hoje a grande aposta do nosso País.
A hidroelectricidade é já a principal fonte nacional de entre as energias renováveis. Mas o facto é que a percentagem de aproveitamento integral do seu potencial se situa ainda apenas nos 58%.
Países nossos parceiros na União Europeia - como a França, a Itália e a Alemanha - aproveitam praticamente todo o potencial hídrico para a produção energética. Mesmo aqui ao lado, a Espanha tem actualmente 85% deste manancial em plena produção. Apesar de registar níveis de precipitação média anual inferiores a Portugal, Espanha construiu um elevado número de albufeiras, tendo-se tornado no país do Mundo com maior quantidade de água armazenada per capita.
Pelo contrário, Portugal é um dos países em que menos cresceu a capacidade hídrica instalada nos últimos 30 anos. Contudo, o governo apenas objectiva as suas intenções para esta área em grandes hídricas.
As centrais mini-hídricas - pela sua dimensão, pela menor relevância do impacte ambiental, pelo carácter disperso que possibilita maior cobertura territorial e por poderem ser, também, utilizadas para múltiplos fins - encerram um forte potencial para a modificação das condições locais e para o desenvolvimento de actividades produtivas. Mais do que as grandes hídricas, constituem um poderoso aliado à fixação das populações e, por consequência, à luta contra a desertificação do interior do nosso País.
Entre outras vantagens, este tipo de mini-centrais permite, controlar o caudal dos rios e proceder à irrigação dos campos. As albufeiras originadas pela construção destas centrais hídricas potenciam diversas valorizações para o recurso água para efeitos de combate aos fogos florestais e de apoio às actividades agro-silvo-pastoris. Funcionam ainda como factor de alteração das condições climáticas pelo aumento induzido dos níveis de humidade relativa do ar.
O equilíbrio ambiental e o carácter económico distributivo tornam a aposta nas mini hídricas numa solução urgente e imperativa.
Por tudo isto, apresentei há um ano na Assembleia da República um Projecto de Resolução que recomendava ao governo a promoção do pleno aproveitamento energético dos nossos recursos hídricos através do recurso a mini-centrais hídricas. Depois de discutido em plenário e na tentativa de encontrar um texto que gerasse consenso, solicitei a baixa à comissão do diploma. Por vontade da maioria já percorreu três comissões e infelizmente o tempo vai passando sem que o Parlamento aprove uma recomendação tão importante. Fica-me a esperança que não tarde…
6 comentários:
Energias renováveis sim.
Mas com conta peso e medida.
1. Creio que a alteração de níveis de humidade relativa na atmosfera não seja benéfica para os ecossistemas locais. A destruição da flora e a alteração drástica do meio aquático são irreversíveis.
2. Por os municípios receberem parte dos lucros da venda dessa energia, todos a querem, estando Portugal a ser semeado adoc de torres eólicas em cada colina ou montanha. O mesmo se passará com as mini-hídricas.
3. E a biomassa que vai existir em excesso quando perdermos a competitividade na produção de pasta de papel?
Apenas me pergunto, se num país que se diz destino turístico, o que é que o turista vai ver? florestas com eólicas espetadas no meio. Regatos e ribeiras emparedadas em cimento armado? sim porque infelizmente o culto da estética e do belo em Portugal é uma miragem.
Custou-me ouvir aqui à dias que uma escarpa quartezítica que se eleva a 350 metro do leito de de um rio, monumento geológico nacional catalogado pela Unesco, vá simplesmente "levar" com uma mini-hídrica em cima. Tudo em bom nome do progresso
Energias renováveis sim. Mas não a granel
Estou pouco preocupada com o aspecto estético e muito menos com os turistas, preocupa-me isso sim a conservação da Natureza e o equilíbrio ambiental, para o qual as mini-hídricas são um verdadeiro desastre. Há em Portugal boas condições para produzir muita energia renovável a partir de ventos, marés e do Sol. Por favor Dr. Miguel Almeida, deixe os cursos de água em paz.
A água dos rios tem de deixar de ser vista, minimalisticamente, como H2O e passar a ser encarada como elemento de suporte à vida e aos ecossistemas! Transformar os rios em cascatas sucessivas de lagos, para além de degradar significativamente a qualidade da água, altera por completo a dinâmica biológica do local, promovendo, a perda em última análise, da biodiversidade.
O verdadeiro segredo das mini-hídricas não é o que o autor escreve mas antes, o facto de serem por muitos promotores, equiparadas a minas de ouro, tal é o enquadramento a nível financeiro da sua exploração. Financeiramente são um excepcional negócio, energeticamente são irrelevantes e ambientalmente são um desastre.
Isto das mini hídricas é muito giro, "energia renovável e blábláblá que tem que ser porque o planeta esta a aquecer", mas esquecemo-nos no tremendo impacte causado nos cursos de água. Desnivelamento, estrangulamento e falta de circulação de água a montante, e como não circula aumenta a sua quantidade de matéria orgânica e poluição, e isto sem falar na mortandade na turbina de peixes e mesmo mamíferos (que embora raros também existem (por exemplo lontras)) que querem descer o rio, e inversamente dificuldades para aqueles que o querem subir o rio para a desova. É sim senhor uma energia interessante, mas só se for para os investidores, pois são um autentico negócio da china, com investimentos pouco significativos, tempos de amortização muito baixos e lucros astronómicos. É so meter la o dinheiro e passado pouco tempo toca a viver de elevados rendimentos (elevados mesmo!), sentado confortavelmente no sofá .. Nao é por acaso que neste momento há centenas de mini hidricas em projecto ! ... E imagino quantas ja devem ter sido feitas com compadrio e cunharia a nivel autarquico ...
os comentários anteriores explicam porquê o Portugal anda sempre na cauda da Europa. A maioria das pessoas não é capaz de ver além do seu próprio umbigo, padecem de uma inveja dos que são capazes agir e criar alguma riqueza. Não fazer nem deixar fazer os outros - este é o lema desta gente. Meus parabéns Sr. Miguel Almeida por ter capacidade de ver mais longe e fazer esforço neste sentido.
Mas quem aqui é contra criar riqueza? A riqueza deve ser criada sim senhor, mas numa óptica de desenvolvimento sustentável, respeitando os recursos naturais e promovendo o emprego e uma distribuição de recursos económicos o mais homogénea possível. É essa a tendência dos países equilibrados do Norte da Europa, que são sim os melhores exemplos de países ricos, desenvolvidos e equilibrados! O colega é capaz de me confirmar que uma mini hídrica, que pouco emprego gera, que representa um forte impacto ambiental e um negócio da China para um ou dois investidores, respeita os pressupostos acima descritos? A mim pelo menos não me parece.
O desenvolvimento de um país deve ser sustentado e deve ter a participação de todos, continua-se a insistir na teoria de que o país se desenvolve à conta dos interesses privados dos mesmos de sempre, isso é que está errado e a prova disso são os últimos vinte anos em Portugal.
De que serve criar riqueza se essa vai parar aos mesmos de sempre? De que serve investir em negócios que hipotecam os nossos recursos naturais?
Eu gostava que o colega me explicasse.
Cumprimentos
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